“É coisa da sua cabeça”: Metade das mulheres já teve sintomas da menopausa invalidados como exagero

Pesquisa revela uma realidade alarmante: o sofrimento físico e mental de mulheres no climatério é frequentemente minimizado, atrasando diagnósticos e perpetuando um tabu que custa caro à saúde feminina.

Fogachos que interrompem o sono, uma ansiedade inexplicável, cansaço avassalador e uma névoa mental que dificulta as tarefas mais simples. Para milhões de mulheres, esses não são apenas sintomas, mas o início de uma batalha dupla: uma contra as transformações do próprio corpo e outra, talvez mais cruel, contra a incompreensão. Um dado recente joga luz sobre essa segunda luta: metade das mulheres já teve seus sintomas de menopausa e climatério tratados como exagero, “frescura” ou “coisa da cabeça”.

Essa invalidação, que parte de parceiros, familiares e, em muitos casos, dos próprios profissionais de saúde, cria uma perigosa epidemia de silêncio. A mulher, que já lida com as mudanças hormonais drásticas, passa a duvidar de sua própria percepção, se isola e demora a buscar ajuda adequada, sofrendo desnecessariamente por anos.

O Ciclo da Invalidação e Suas Consequências

 jornada do climatério — período de transição que antecede a última menstruação — pode começar por volta dos 40 anos, mas a falta de informação faz com que muitas mulheres não associem os primeiros sinais à menopausa.

“A paciente chega ao consultório relatando insônia, irritabilidade e ganho de peso. Muitas vezes, ela já passou por diversos médicos que a diagnosticaram com estresse ou depressão, receitando antidepressivos sem investigar a raiz hormonal do problema”, explica uma ginecologista especialista em saúde da mulher. “O que ela ouve é que ‘está trabalhando demais’ ou que ‘é normal da idade’, quando na verdade seu corpo está passando por uma das maiores revoluções fisiológicas de sua vida.”

As consequências dessa minimização são profundas e afetam todas as áreas da vida da mulher:

  • Saúde Mental: A constante invalidação pode levar a quadros de ansiedade e depressão, agravados pela falta de um diagnóstico correto.
  • Vida Profissional: Sintomas como a névoa mental (dificuldade de concentração e memória) e o cansaço extremo podem impactar a produtividade e a confiança, levando algumas mulheres a abandonar suas carreiras precocemente.
  • Relacionamentos: A falta de libido, as alterações de humor e a incompreensão do parceiro sobre o que está acontecendo podem gerar crises conjugais severas.
  • Saúde a Longo Prazo: Ignorar os sintomas significa não tratar a queda hormonal, o que aumenta os riscos de doenças cardiovasculares, osteoporose e outras condições associadas à pós-menopausa.

Quebrando o Tabu: Não é Exagero, é Fisiológico

A principal causa para esse cenário é o tabu. A menopausa ainda é vista socialmente como um marco do envelhecimento e da perda da feminilidade, um assunto a ser evitado. Essa mentalidade ultrapassada impede conversas abertas e a disseminação de informação de qualidade.

É crucial entender que os sintomas do climatério não são psicológicos ou um sinal de fraqueza. Eles são o resultado direto da flutuação e queda de hormônios essenciais, como o estrogênio. Trata-se de um processo biológico real, que exige acolhimento, diagnóstico e tratamento.

A mudança começa com a informação e o diálogo. Mulheres precisam conversar entre si, compartilhar experiências e, principalmente, se sentirem seguras para levar suas queixas aos médicos sem medo de serem rotuladas. É fundamental que a sociedade, e em especial os homens, compreendam essa fase para oferecer apoio em vez de julgamento.

Para a mulher que se identifica com essa situação, a mensagem é clara: você não está sozinha e não é “coisa da sua cabeça”. Busque profissionais de saúde atualizados, que se especializem em climatério. Anote seus sintomas, seja insistente. Cuidar da sua saúde hormonal é garantir sua qualidade de vida hoje e no futuro. A menopausa não é o fim, mas pode ser o começo de uma nova fase, desde que vivida com saúde, respeito e dignidade.